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Pinguela… o volante do jogo limpo

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Nos anos 50, o Vitória vivia um grande reencontro com o seu futebol. Se em boa parte da primeira década do século XX o clube adormecera para com o esporte bretão, agora vivia anos de um profissionalismo marcado por contratações suntuosas que renderiam títulos ao clube. É neste cenário que o clube contratou Pinguela, jogador e treinador do clube por vários anos, tornou-se campeão por duas vezes no Vitória.

Oriundo da cidade de Ponte Nova-MG, João Paulo de Oliveira nasceu no dia 24 de junho de 1928. Foi ainda em Minas em 1946 que ele começou no futebol pelo Metaluzina. Seu futebol rapidamente despertou interesse do Bangu que o levou para o Rio de Janeiro já em 1948. Lá, chegou a ser vice-campeão no início da década de 50 ao perder para o Fluminense, clube pelo qual atuaria a partir de 1954. Já em 1955 ele teve uma rápida passagem pelo Náutico e ainda no mesmo fora trazido para o Vitória, um clube que agora profissional – desde 1953 – fazia esforços para contratar jogadores de outras praças esportivas.

A origem do curioso apelido nem ele mesmo sabe, visto que o ganhou ainda garoto. Mas por conta dele já entrou em diversas brigas. Resiliente, Pinguela incorporou de o apelido e ganhou os gramados com ele. Assumindo a ‘volância’ do Vitória, ou melhor, a frente de zaga, tornou-se campeão em sua primeira temporada com o clube, naquele que foi o primeiro título rubro-negro frente ao rival Bahia. Numa melhor de três, o Leão venceu o rival no primeiro por 3 a 0, perdeu o segundo por 2 a 1 e no derradeiro confronto venceu por 4 a 3.

O volante Pinguela defendia um jogo pouco bruto dentro das quatro linhas. (Créditos: Revista do Esporte)

O primeiro gol porém só aconteceu em fevereiro de 1956. Jogando diante do ex-clube, o Náutico, pelo Torneio Bahia-Pernambuco, Pinguela marcou o gol do empate em 1 a 1 com a equipe alvirrubra. O primeiro de seus 29 tentos feitos pelo Decano. Em boa verdade, boa parte de seus gols foram contra equipes de fora do estado. Flamengo, Santa Cruz, Paysandu, Corinthians e São Paulo foram algumas das vítimas numa época em que amistosos interestaduais enchiam os olhos dos torcedores que iam a Fonte Nova. Ainda assim, seu papel na frente de zaga continuou pertinente, e foi atuando por ali que conquistou seu segundo título pelo Leão da Barra, o Campeonato Baiano de 1957. Neste ano, tal como outros craques da esquadra rubro-negra, o volante teve a oportunidade de defender as cores da Seleção Brasileira no Chile, quando a Seleção Baiana foi convocada para representá-la.

Diferente de muitos defensores da moda antiga, o volante Pinguela não era adepto do futebol brucutu. Dizia ele que sua esposa, um baiana e fervorosa torcedora do Vitória, ficava furiosa quando ele recebia algum encontrão em campo de um jogador adversário e o pedia para que ele revidasse. Em contraponto ao que pensava sua esposa, o atleta leonino era contra a deslealdade no campo de jogo. “Eu mesmo tenho fama de ser jogador ríspido, mas sempre entro na bola e não no adversário.”; Assim disse à Revista do Esporte. Se outrora, o jovem João Paulo brigava em fúria por conta de um apelido, agora seus esforços encontrava-se no bom futebol. Em 1960, ele foi para a Europa na primeira excursão do Vitória pelo Velho Continente. Por lá, marcou gols contra o Hospitalet e Espanyol na Espanha, Hertha Berlim e Rotation Leipzig nas Alemanhas e também contra equipes da Bulgária e da Romênia.

Como técnico , Pinguela era adepto da tática do chuveirinho. (Créditos: Revista Placar)

Tal como dissera em entrevista que desejaria encerrar a carreira na Bahia, assim o fez. Pinguela deixou o Vitória em 1961 transferindo-se para o Bahia onde encerrou a carreira no ano seguinte. Tendo constituído família na Boa Terra, Pinguela continuou vivendo no estado após o fim da carreira onde entrou para o seleto grupo de treinadores do Vitória que um dia vestiram a camisa do Leão (ao todo foram 14). Fã do estilo de treinadores como Carlos Volante e Bengalinha, os quais trabalhou no rubro-negro, ele treinou o clube em diversas oportunidades entre as décadas de 60, 70 e 80, tendo a última passagem acontecido no ano de 1982.

Ao todo, comandou o Vitória em 110 partidas, sendo o sexto técnico que mais dirigiu o clube. Veio a falecer em 13 de maio de 2006, dia do aniversário do Esporte Clube Vitória.


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