Salvador, 24 de agosto de 2019
Rodada 18 de 38
Sem descanso
Até os amistosos da Seleção Brasileira, em setembro, a tabela é impiedosa. Jogos de 3 em 3 dias, pá, pum. Joga, descansa, recupera, treino leve, joga de novo. Época, pois, de prudência física. Preservar atletas é fundamental.
Mas, ora, como preservar quem quer que seja numa situação de luta contra o Z4? Tem isso, não.
Quem inventar de poupar, melhor provar por A+B que se não fizer, contusão chega, porque, caso contrário, o céu vai cair sobre sua cabeça.
Agonia da proximidade do fim
Sábado à tarde. Reencontro da torcida com um fim-de-semana de futebol no Barradão, que prepara seu adeus. Trocado pela Arena Fonte Nova, o estádio vai emitindo seus últimos suspiros nesta Série B. Enquanto a celeuma com Consórcio e Governo do Estado permanecem, ganha vida prolongada, mas com qualidade questionável.
A questão é como a agonia pela proximidade do fim vai pesando o ambiente. Sem contrato que marque a data da mudança, mas rejeitado desde já, o Barradão vai se carregando de melancolia, tratado com um desprezo que definitivamente não merece.
A saída para a arena, travestida de isonomia de direitos, vai na contramão do que se vê por aí. O Santos, por exemplo, a pedido dos jogadores e comissão técnica, adotou a Vila Belmiro como casa, apesar do pouco público e da renda minguada.
O quintal da gente é querência. Engrandece a alma com o sentimento de pertencimento.
Ver a forma como a transferência de mando tem sido conduzida dói no coração da torcida que foi talhada dentro do santuário ecológico. Para o rubro-negro, nenhum lugar é tão ‘casa’ quanto o Barradão.
Chiquinho volta, mas Capa? Quem suporta?
Lesionado num lance isolado na alvorada do jogo contra o Paraná, Chiquinho seria um reforço importante para o Vitória contra o Operário-PR, estreante na Série B que faz campanha segura.
Em teoria, reocuparia a lateral esquerda, mandando Capa, o mais que contestado substituto, de volta para o banco de reservas.
Mas porque jogar seguro quando se pode inventar?
Assim, Chiquinho voltou ao time titular. Wesley foi na mesma leva, junto com Jordy. Thiaguinho, Ruy e Anselmo Ramon, se despediram do onze do minuto zero.
Ué? E Capa?
Pois é… Amadeu manteve o lateral na esquerda, evoluindo Chiquinho ao meio. Mais uma escalação diferente. Vai entender.
E não é que funcionou?
Só que time encaixou no o primeiro tempo, especialmente nos primeiros 30 minutos. As jogadas fluíam. Chegava-se com certa facilidade à área paranaense, que, por sua vez, não incomodava.
Perdeu-se um gol aqui, outro ali…
Mas o zero não saiu do placar.
Mas depois desfuncionou
A ideia de ver o time jogar bem – dentro do que significa jogar bem no limitado elenco – deve ter incomodado Amadeu. E no intervalo tratou de corrigir o erro-mas-nem-tanto de escalar Capa.
Só que em vez de voltar com Anselmo Ramon e reorganizar a equipe a estrutura de seus vitoriosos primeiros 2 jogos, ressuscitou Nickson.
Ah, madeu…
A cria da base continua sua péssima fase. Depois de quase 1 mês sem entrar em campo, mostrou não apenas estar totalmente fora de ritmo, como também estar visivelmente fora de forma.
Sua entrada bagunçou o posicionamento em campo. E sua postura malemolente contagiou a todos.
O que fluía, passou a tropeçar.
Aos 13 minutos, foi a vez de Wesley se despedir do gramado para ver Anselmo Ramon entrar com seu coturno.
A letargia e a preguiça, preocupantemente vistas no jogo anterior, reassumiam o protagonismo. Do outro lado, o brioso Operário ameaçou com bola no travessão que provocou onda inesgotável de xingamentos.
Somente aos 43 minutos da etapa final, quando ninguém aguentava mais cornetar o recém-chegado professor, Amadeu lançou mão da terceira e última substituição. Uma vez mais, de novo, Eron foi chamado para resolver.
Em seus pés, aos 47, teve o lance do gol da vitória ao alcance. Seria o tento a varrer a pecha de jogador de sub-23, de craque da base que trema no profissional. Garantiria 3 pontos e a equipe subindo na classificação, posicionando-se confortavelmente acima do Z4.
Mas seu chute, perigoso, foi pra fora.
De volta ao que era
Sem mexer redes, Vitória 0x0 Operário-PR foi um jogo morno, que por poucos centímetros poderia ter um destino diferente. Só que estes poucos centímetros beneficiariam o oponente.
Apesar da quarta partida sem sofrer gols – fato louvável, com créditos à defesa mais bem postada no esquema de Amadeu -, o Vitória retrocedeu. Voltou ao que era antes da chegada do ex-técnico do Sub-20 da CBF. Inofensividade do ataque, tropeços, preguiça, sobrepeso, desorganização.
A empolgação, na mesma velocidade que chegou, se esvaiu em preocupação.
E já garantiu o áudio novo culpando a torcida. Durma com um barulho desse.
Desperdício
Imagine ter 3 jogos em casa em 4. O time em crise, tendo a chance de se recuperar em sua casa, com o carinho de sua gente. Imagine, no meio do trajeto, ter vencido as duas primeiras das quatro, 6 pontos, fuga do Z4.
Imagine fazer dobradinha em casa, largando contra concorrente no abismo, finalizando contra estreante que joga para não aparecer muito. Imagine recuperar de vez a relação com a torcida, ampliar a tranquilidade, turbinar de vez a campanha e fazer conta pra subir.
Imaginou?
Eu imaginei. Eu vi e sonhei.
Só que a realidade de quem gosta tanto do retrocesso, como o Vitória da nova era, é limar sonhos meus, seus, de toda a nação.
Juntar migalhas, na forma de 2 pontos em 6, tem motivo, nome e sobrenome. Se a evolução da chegada foi pautada pelas intervenções corretas de Amadeu, a caminhada para trás tem também o seu dedo. Escalações estranhas, substituições equivocadas. Postura angustiantemente lenta em campo, sem ser capaz de injetar ânimo no elenco carente de estímulo.
Na próxima data, enfrente o vice-líder fora de casa, com o Z4 fungando no cangote. Desperdiçou-se, pois, uma chance de ouro para catapultar um novo momento rubro-negro nesta Série B. Assim, estamos de volta à preocupação incessante.
Gabriel Galo é baiano, torcedor do Vitória, administrador e escritor, cronologicamente falando. É autor de “Futebol é uma matrioska de surpresas: Contos e crônicas da Copa 2018”, disponível na Amazon.
Foto: Letícia Martins / EC Vitória
O “Diário da Série B” é série que também está sendo publicada no Correio* e no Arena Rubro-Negra. Acompanhe!
Rodada 18, Vitória 0x0 Operário-PR: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 17, Vitória 0x0 América-MG: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 16, CRB 0x1 Vitória: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 15, Vitória 2×0 Paraná: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 14, Brasil 1×0 Vitória: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 13, Figueirense 1×1 Vitória: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 12, Vitória 2×1 Ponte Preta: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 11, Londrina 3×1 Vitória: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 10, Vitória 2×0 Criciúma: Arena│ Correio│ Papo de Galo
Rodada 09, Vitória 0×1 Cuiabá: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 08, Oeste 3×0 Vitória: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 07, Sport 3×1 Vitória: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 06, Vitória 0x2 Bragantino: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 05, Atlético-GO 1×1 Vitória: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 04, Vitória 1×3 São Bento: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 03, Guarani 3×2 Vitória: Arena │ Correio│ Papo de Galo
Rodada 02, Vitória 2×1 Vila Nova-GO: Arena │ Correio │ Papo de Galo
Rodada 01, Botafogo-SP 3×1 Vitória: Arena │ Correio │ Papo de Galo
Qual o tamanho do sentimento de chance desperdiçada depois deste Vitória 0x0 Operário-PR dentro do Barradão?