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As canchas rubro-negras: da Pólvora ao Barradão

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Texto escrito em parceria com Ubiratan Brito

Se nas artes cênicas, o teatro é a zona de conforto do ator, no futebol, o jogador encara estádios como zonas de guerra. Lugares de conflitos iminentes, assistidos por uma multidão, ávida pelo espetáculo da batalha campal (esportiva). Dos tempos mais antigos, onde o futebol se disputava em campos que faziam parte do urbanismo soteropolitano ao atual momento, onde grandes canchas foram erguidas para virarem os coliseus do novo mundo, o Vitória passou por muitos campos onde o seu grito já se ouviu e aqui falaremos deles.

Campo da Pólvora

O futebol foi disputado pelo Vitória desde a primeira década do século XX. O Campo dos Martyres, conhecido popularmente como Campo da Pólvora, foi a primeira cancha atrativa do futebol baiano, onde o clube realizou seus primeiros pontapés futebolísticos.

Ali, o Leão fez jogos desde meados de 1903 até 1906. Foi também neste campo, que o Vitória iniciou a disputa do Campeonato Baiano em 1905, fazendo jogos com o Internacional de Cricket, Bahiano e São Salvador.. Por conta de vidraças quebradas, a participação rubro-negra naquele espaço, se extinguiria rapidamente, transferindo-se para outro ponto da cidade.

Foram cerca de 17 jogos disputados, com oito vitórias, sendo a última delas um 5 a 0 sobre o Bahiano de Tênis.

Campo do Rio Vermelho

Por conta do crescimento do futebol na cidade de São Salvador, foi construído um novo campo para as deliberações futebolísticas. O Leão estreou no Campo do Rio Vermelho em 1907 com uma goleada em 5 a 0 sobre o Bahiano de Tênis. Ali, o clube conquistou seus dois primeiros títulos do Campeonato Baiano, em 1908 e 1909, além da conquista de um bicampeonato de segundos quadros em 1907 e 1908.

No Campo do Rio Vermelho, o Vitória também realizou jogos festivos, mesmo com o futebol adormecido dentro do clube na década de 10. O clube chegou a realizar uma partida em 1915, pela comemoração do aniversário da Revolução Francesa, fazendo 56 jogos, sendo o último deles em novembro de 1920.

Estádio Arthur Moraes (Campo da Graça)

O Vitória voltou a jogar futebol a partir do surgimento do Campo da Graça e ali permaneceu até a década de 50.

Com o início das obras de construção do Estádio Arthur Rodrigues de Moraes, na Avenida Euclides da Cunha,  bairro da Graça, no inicio de 1919, a euforia tomou conta das agremiações esportivas de Salvador. Todos queriam fazer parte desta nova era futebolística que estava por vir. O Vitória, que não participava das competições desde 1912, devido ao fim da primeira liga esportiva, resolveu se organizar e reinstalar seu departamento de futebol. Tornava-se então o Vitória o único remanescente da primeira liga a retornar ao futebol, com sua filiação registrada em 18 de dezembro de 1919. 

O Campeonato de 1920 começou ainda no ground do Rio Vermelho, tendo o Estádio da Graça ficado pronto apenas no final do ano. Estreou o Vitória na nova praça esportiva no ano seguinte, em 09 de janeiro, num amistoso contra o Botafogo-BA. No campinho da Graça o Vitória conquistou os Torneios Início de 1926, 1941-42-43-44, o Torneio Municipal de 1944 e dezenas de troféus amistosos. Ficaram marcados triunfos que repercutiram nacionalmente como as goleadas sobre Vasco (4×1 em 1936), Cruzeiro (5×2 em 1946), Sport (7×1 em 1945), Bahia (7×1 em 1948) e maior goleada da sua história, 11×0 Botafogo-BA em 1934.  Ainda em 1934 o Vitória enfrentou a Seleção Brasileira, perdendo por 2×1, e venceu a Seleção de São Paulo por 2×1.

Incluindo partidas oficiais e amistosas o Vitória jogou na Graça aproximadamente 600 vezes, sendo a última num amistoso contra o Leônico em 03 de março de 1972. 

Estádio Octávio Mangabeira (Fonte Nova)

A Fonte Nova foi palco de importantes jogos do Vitória, inclusive na campanha do Brasileirão de 1993.

A Fonte Nova surgiu num período de transição do clube para o profissionalismo. E a história se encarregou de combinar tudo: diretoria comprometida, elenco profissional, estádio novo. Não era receita de bolo, mas deu certo.

O Vitória está presente na história da Fonte Nova desde a sua inauguração, em 28 de janeiro de 1951. Naquele torneio festivo, com jogos de 20 minutos, o Leão começou derrotando o Galícia, com um gol de Tombinho. Em seguida empatou sem abertura do placar com o Ypiranga, mas foi eliminado porque os canários tiveram mais escanteios a seu favor. O Leão também venceu o primeiro BaVi, em junho daquele ano, pelo placar de 3 a 1. O primeiro título chegou dois anos depois. Era o primeiro desde o bicampeonato de 1908/09, e foram logo três taças em anos alternados: 1953, 1955 e 1957. Estava consolidada a ascensão do clube. Era o fim do amadorismo e a consagração como um dos maiores clubes do nordeste.

No inicio dos anos 90, o Vitória já tinha seu estádio próprio, mas continuava a mandar seus jogos na Fonte Nova. As duas finais consecutivas  na Série B 1992 e no Brasileiro de 1993 foram as melhores campanhas nacionais do clube no estádio. O rubro-negro ganhou força e prestígio nacional. Revelou grandes atletas e gerou novas perspectivas pro seu futuro. Porém no ano seguinte a boa campanha foi substituída por uma participação pífia que quase terminou em rebaixamento. Tendo que participar de uma repescagem pra não cair, a direção do clube tomou uma decisão ousada: tirou o Vitória da Fonte Nova e foi mandar seus jogos definitivamente no Barradão, onde o clube conseguiu garantir resultados que o mantiveram na Série A. 

Um dos maiores jogos visto no futebol baiano foi sem duvida o ultimo Ba-Vi realizado na antiga Fonte Nova. Era a abertura do quadrangular final do Baianão de 2007 e mais de 62 mil pessoas estavam nas arquibancadas. O Vitória venceu por 6 x 5, com 4 gols do atacante Índio numa partida que teve três viradas. Numa nova roupagem da Fonte Nova, agora reconstruído como Arena, os Leões da Barra fizeram outro jogo memorável ao golear seu maior rival pelo elástico placar de 7×3, no primeiro jogo da final de 2013. O Vitória tem registrado na Fonte Nova quase que exatamente o dobro de jogos que tem no Barradão:  1543 contra 778.

Estádio Manoel Barradas (Barradão)

Barradão teve inauguração de seus refletores em 1994 e a partir dali, o estádio tornou-se casa rubro-negra. (Foto: Correio)

O Barradão foi construído a partir do sonho rubro-negro de ter um estádio. Em 11 de novembro de 1986, o estádio foi inaugurado em um empate com o Santos por 1 a 1, mas o clube demorou a consolidar a nova cancha como sua casa. Em 1991, o Santuário foi reinaugurado após novo empate com o Olímpia-PAR por 1 a 1. Já em 1994, um jogo com o Náutico, pelo Campeonato Brasileiro, marcou a estreia dos refletores, que hoje iluminam as arquibancadas rubro-negras.

Dali em diante, o Barradão virou de fato o destino fiel da torcida do Decano e impulsionou o Vitória para uma espiral de títulos baianos e regionais. Em 1995, o clube levantou sua primeira taça após jogo contra o Galícia, vencido por 1 a 0. Nos anos 2000, goleadas como o 5 a 1 no Flamengo, 6 a 2 no Bahia, 5 a 0 no Vasco, 5 a 2 no Botafogo e 6 a 2 no Santos, fizeram o estádio ter a fama de uma alçapão para os adversários.

O Barradão que já passou por diversas mudanças de natureza estética e técnica, hoje comporta cerca de 30 mil pessoas e já recebeu 844 jogos do Vitória, com 501 vitórias, 189 empates e 154 derrotas. Até o momento, o Leão já balançou as redes 1722 vezes e sofreu 850 revezes. O Barradão, é de fato, mágico.

Estádio Governador Roberto Santos (Pituaçu)

Em 2014, o Vitória jogou o primeiro semestre do ano inteiramente no estádio de Pituaçu, por conta de reformas no Barradão. (Foto: Blog do Futebol Bahiano)

Inaugurado em 1978, o Estádio Metropolitano Roberto Santos pouco foi utilizado sequer para treinos devido sua distância do centro da cidade. Apenas em 1995, com chuvas castigando os gramados do Barradão e da Fonte Nova, o Vitória conheceu o campo de Pituaçu. O Leão realizou 8 jogos do Campeonato Baiano, seja como mandante ou visitante. A estreia foi um triunfo de 2×0 contra seu maior rival. 

Outros jogos foram realizados em 1999 e 2009, mas foi em 2010 que o clube teve que mandar seus jogos novamente no campo Avenida Pinto de Aguiar, devido reformas no Barradão. No ano de 2014, com o Barradão emprestado à FIFA para treinamento de seleções que disputaram a Copa do Mundo, o rubro-negro retornou ao Pituaçu, agora já reconstruído como Arena,  realizando 12 partidas.

No total foram 43 jogos, todos oficiais, com 25 vitórias do Leão, 10 empates e 8 derrotas. Ramon, com 9 gols, e Juan, com 8,  foram quem mais marcaram para o Vitória. 

Extra

Além dos principais estádios da cidade, o Vitória jogou partidas amistosas em outros campos de Salvador, alguns até desconhecidos nos dias de hoje: Estádio da Liga de Brotas , Campo do Tejo, Estádio Nair Castelo Branco (em Periperi), Vila Canária, Vila Militar e Estádio de Plataforma.  


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