Caro amigo rubro-negro, antes de mais nada peço-lhe perdão por interromper seu feriadão natalino com um assunto nada agradável nos últimos tempos. Entendo que o natal deste ano é uma saída de escape para nós que, além de carregar todo peso negativo da pandemia e suas consequências, carregamos também o desgosto de mais uma temporada fracassada do Esporte Clube Vitória dentro e fora de campo.
Contudo, neste momento em que não nos falta vigor em apontar culpados, lhe convido a mergulhar neste texto que discorre sobre a história recente do nosso clube, algo que o presidente Paulo Carneiro costuma sugerir – ele que, por acaso, abarca consigo todos os seus últimos antecessores, sejam por estarem aliados a ele, ou por ele serem responsabilizados pela situação em que nos encontramos.
Paulo Carneiro é o dirigente que por mais tempo comandou o Vitória. Assumiu em 1991 e lá ficou até o ano 2000, quando transformou o clube em uma S/A onde ele mesmo presidia o conselho administrativo. Retornou em 2019, eleito pelos votos dos sócios, cargo que ocupa até os dias de hoje.
Mas antes mesmo dele adentrar ao clube, o sobrenome Carneiro já figurava os noticiários sobre o Leão da Barra. A reportagem abaixo é do Jornal A Tarde, em 1941, e noticia a contratação do atacante português Rui Carneiro, pai de Paulo Carneiro.
Antes do primeiro mandato de Paulo Carneiro, o presidente do Vitória era Ademar Pinheiro Lemos Júnior (1987 – 1990). Ele é filho de um grande comerciante baiano, Ademar Pinheiro Lemos, responsável pela criação de uma empresa no ramo alimentício existente até os dias de hoje, sob o comando do filho. Na época em que assumiu o clube, Ademar Júnior acabara de fundar o bloco carnavalesco Eva, junto com amigos da escola. Entre eles estava Jorginho Sampaio.
Ademar voltou a ser presidente do Vitória entre 2005 e 2006. Já Jorginho esteve no clube entre 2006 e 2009, como vice-presidente executivo e presidente do Vitória S/A. E assim como os outros, também teve um retorno ao quadro de dirigentes do rubro-negro, em 2017, como assessor especial da diretoria de futebol.
Alexi Portela Júnior é outro que preenche uma dinastia no Vitória. Engenheiro e empresário do ramo das telecomunicações, ele é filho de Alexi Portela, presidente do Leão entre 1975 e 1976, conforme comprova a manchete abaixo, da extinta Revista Super Vitória 76. Empossado em 2007, Portela Júnior ficou no cargo até 2013, quando elegeu o seu sucessor, Carlos Falcão. Seu filho, Rodrigo Portela, está no Conselho Deliberativo e é sempre apontado como potencial candidato a herdar o cargo que já foi do pai e do avô.
Carlos Falcão, que também é empresário e foi vice-presidente de Alexi, assumiu o clube em 2014, mas renunciou no ano seguinte após sucessivas falhas de gestão e forte pressão da torcida. Ele foi eleito em detrimento de Fábio Mota, atual presidente do Conselho Deliberativo que, à época, apesar de apoiador de Alexi, chegou a anunciar uma candidatura, desestimulada por falta de apoio. Na gestão de Falcão, dois nomes merecem destaque: Manoel Matos, diretor das categorias de base, e Ricardo David, diretor de planejamento e marketing.
Com a renúncia de Falcão, o Vitória teve um bate-chapa após anos de candidaturas únicas eleitas por aclamação. De um lado, Raimundo Viana, que viria a ser o escolhido pelos conselheiros, tendo Manoel Matos na vice. Raimundo era presidente do Conselho Fiscal e já tinha presidido a Federação Baiana de Futebol. Ficou no clube entre a metade de 2015 até o fim 2016. Do outro lado, Ivã de Almeida, tido como um conselheiro ativo, com acesso à sala da presidência de Alexi Portela por sua dedicação ao clube.
Derrotado em 2015, Ivã foi eleito nas eleições regulares de 2016¹. Graças aos inúmeros erros na condução do clube, Ivã não chegou a completar um ano de mandato, sendo mais um presidente renunciado. Em seu lugar assumiu o vice, Agenor Gordilho Filho, que é tio do, à época, presidente do Conselho Deliberativo, Paulo Catharino Gordilho Filho.
Ricardo David foi eleito em 2018, na sua segunda candidatura. Empresário e ex-diretor do clube, criou muita expectativa com discursos racionais e convincentes. Mas na prática fez tudo ao contrário. Foi na gestão de Ricardo que o time do Vitória, após três anos de sobrevivência na primeira divisão do Campeonato Brasileiro, foi rebaixado à Série B, abrindo as portas de uma crise financeira de dimensões absurdas. Sob forte pressão, o presidente fez um acordo com o Conselho e abreviou seu mandato – que iria até dezembro – aos primeiros meses de 2019; não antes de ver a equipe ser desclassificada ainda na primeira fase do Campeonato Baiano.
Ricardo deixou a cadeira para Paulo Carneiro, que retornara ao clube com o apoio de várias lideranças internas, como Alexi Portela Júnior, Ademar Pinheiro Lemos Júnior, Manoel Matos, Fábio Mota e Antônio Carlos Menezes (Cacau). Ou seja, durante os últimos trinta e três anos, o mesmo grupo – a considerar episódios de rachas e concorrências – revesou nomes na gestão do Esporte Clube Vitória, prática que, na visão de muitos torcedores, assertivamente, eu diria, é denominada como o-l-i-g-a-r-q-u-i-a.
Não suficiente o monopólio [quase que] institucional, muito se viu/ouviu, e até hoje se vê/ouve, entre todas as gestões descritas neste texto e seus eventuais opositores, são notícias sobre conspirações, entrevistas acusatórias à imprensa, vazamentos de dados internos, uma série de ataques e atitudes que ecoam nos corredores da Toca do Leão até alcançar a concentração e, consequentemente, o campo e a arquibancada do Barradão, causando instabilidade em todo o clube, ocasionando resultados negativos e alimentando uma estúpida e inútil guerra de egos entre os envolvidos.
Por fim, é fato que todos os ilustres nomes & sobrenomes expostos neste artigo possuem um histórico incalculável de contribuição e dedicação ao Vitória. Alguns praticamente livraram o clube do ostracismo, e merecem o devido reconhecimento. Mas o objetivo desta publicação não é, nem de longe, apagar tais feitos. Sim demonstrar o apego e a fome de poder de homens já bem sucedidos, que há trinta e três anos fazem com que o Vitória ande em círculos, em volta dos mesmos nomes, sem chegar a lugar algum.
Conhecer a história do Vitória é um dever de todo torcedor. E apesar do momento ruim, desestimulante, associar-se ao clube é o único meio para que você, rubro-negro, em vez de apenas apontar culpados, tenha voz para fazer a diferença. Pois o povo que não conhece a sua história está fadado a repeti-la. E só a torcida pode salvar o Vitória.
¹Essa eleição foi a primeira em que os sócios tiveram a oportunidade de escolher a chapa para o conselho deliberativo, cabendo a ele eleger um dos conselheiros para presidir para o clube. Graças à pressão da torcida por eleições diretas, as chapas acabaram anunciando quem seriam os escolhidos ao Conselho Diretor antes mesmo da eleição.