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Vitória x Galícia: o jogo do quebra-tabu

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Hoje abrimos espaço nesta coluna para contar de um feito memorável do futebol baiano. Mas não propriamente do Esporte Clube Vitória, e sim de um dos tradicionais rivais do rubro-negro, o Galícia. A equipe criada por imigrantes espanhóis da região homônima ao time conquistou respaldo no futebol local logo na sua primeira década atuando nos gramados. Porém, em 1963 o Granadeiro completava cerca de nove anos sem vencer o Leão da Barra. A sorte mudou no dia 04 de fevereiro, quando o clube derrotou o Decano por 1 a 0, provando sua alcunha de “Demolidor de Campeões”.

O time azulino preparava-se para o encontro com os rubro-negros desde a semana anterior ao confronto. O então presidente Aurélio Viana prometera uma parte da renda aos atletas caso viesse o triunfo. Com isso, a semana correu com os jogadores fazendo treinamentos puxados. O cartola também prometeu que iria queimar as camisas do clube. Já os rubro-negros preparavam-se para manter o tabu. E a partida não seria um simples jogo, visto que podia valer a liderança do Leão no Campeonato Baiano de 1962.

Jogadores do Galícia em treinamento na semana do esperado jogo. Da esq. pra dir.: Vadinho, Frank Chagas, Lai, Raul e Geraldo Simões. (Acervo de Nivaldo Carvalho)

O Galícia tinha em seu plantel alguns jogadores que tinham passado pelo Vitória. Dentre eles: Frank Chagas, que havia sido campeão do Torneio Início do Baianão pelo decano dois anos antes e Wassil Barbosa, então técnico e treinador do granadeiro, que havia defendido a camisa vermelha e preta por volta de 1959.

O jogo:

 Na primeira etapa, os dois escretes fizeram um confronto bem disputado para os 6 661 pagantes que compareceram a Fonte Nova. Porém, a torcida do time hispânico esperava desta vez uma vitória. E ela veio a se concretizar logo aos seis minutos do segundo tempo com o gol de Wassil Barbosa.

 O Vitória por sua vez queria vencer o Galícia. Primeiro para prosseguir na liderança, e segundo para continuar com o duradouro tabu. A equipe rubro-negra partiu pra cima na intenção de arrancar o empate e até mesmo chegar a virada. As investidas do Leão não foram tão efetivas, pois o Galícia se defendeu como pode e respondia com seus contra-ataques. Com os nervos a flor da pele, as baixas vieram. O goleiro Zé Carlos foi expulso na partida e junto a ele o lateral-direito Kleber “Bubu”. Com dois a mais, o time dos colonos espanhóis teve um jogo mais maleável a partir dali, e ao apito final do mediador do confronto, Otávio Neves de Jesus, os granadeiros puderam comemorar a quebra do tabu.

 A festa foi feita a partir dali. Um dos dirigentes do clube, Ceferino Carrera, comprou uma taça para simbolizar o feito e a ergueu no gramado da Fonte Nova. Não só torcedores do time hispânico-brasileiro comemoraram a vitória. O Fluminense de Feira virou líder da competição com a derrota leonina e deu cinco mil cruzeiros para serem repartidos com a equipe vencedora do jogo. A fartura de dinheiro ainda vinha para os jogadores. Cada atleta recebeu cinco mil cruzeiros dos seus ‘padrinhos’ e um torcedor se disponibilizou a dar a quantia de dois mil para cada um dos vencedores.

O dirigente granadeiro Ceferino Carrera ergue a taça quebra-tabu.

 O presidente do Galícia, Aurélio Viana se dispunha a repartir a renda com os jogadores caso a vitória acontecesse. Dito e feito! O time ficou com 262 mil cruzeiros. Já o bicho foi de seis mil pra cada um. Menos o jogador-treinador Wassil, que ficou com doze mil pelo fator de ter marcado o gol salvador. A premiação total de Wassil foi de quase 30 mil cruzeiros. O Vitória chegou a vencer o Galícia na preliminar por 5 a 1, e por isso a renda total chegou a ser de mais de 800 mil cruzeiros.

 A outra promessa também veio a ser cumprida pelo cartola. As camisas usadas no confronto foram queimadas na pista de acesso ao Estádio Octávio Mangabeira – alguns atletas guardaram as suas camisetas -. Assim pondo em cinzas toda um mau adquirido pelo clube nos anos anteriores diante do Vitória.


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